Painel de Abertura, com a performance da aluna do Colégio José Álvaro Vidal
Foi com a vontade de continuarmos a inovar na nossa intervenção diária, que o 55.º aniversário da CEBI foi celebrado, este ano, com a realização do Encontro “Economia Social e Solidária: Futuro e Inovação", a 23 de novembro. Num auditório repleto de participantes, realizou-se uma reflexão conjunta sobre o sector fundacional, procurando-se evidenciar o potencial das organizações sociais ao nível da promoção da equidade, do reforço da coesão social e dos comportamentos solidários.
O caminho destas mais de cinco décadas foi desenvolvido com a permanente resposta às necessidades que se foram identificando nas comunidades onde fomos intervindo e que promoveram a atual diversificação de serviços nas áreas Educativa, Social e de Saúde.
O tema “Blackbird”, de Paul McCartney, interpretado pela aluna Rafaela Marques, marcou o início da jornada de trabalhos a que se seguiram os discursos de Ana Maria Lima, Presidente do Conselho de Administração da CEBI, e de Fernando Paulo Ferreira, Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
Ana Maria Lima salientou que “estamos a viver a terceira revolução industrial, designadamente a tecnológica”, onde “observamos inovações todos os dias, que consideramos imprescindíveis nas nossas vidas e na de qualquer organização”.
"A Fundação CEBI inovou e é com orgulho que o dizemos quando, em 1968, um pequeno grupo de cidadãos liderado por José álvaro vidal se reuniu para avaliar as dificuldades e necessidades de Alverca e deram o primeiro passo no que chamamos hoje de Economia Social. A inovação não pode parar e tem de ser permanente na nossa atividade, com a concretização de novos projetos para que os serviços que prestamos sejam cada vez melhores"
Ana Maria Lima
Por sua vez, Fernando Paulo Ferreira destacou que o concelho de Vila Franca de Xira tem um terceiro setor com muito potencial, o que “tem permitido dar resposta às necessidades das pessoas”, nomeadamente na primeira infância ou na terceira idade, sendo que "à exceção das misericórdias, que têm uma história de 500 anos, boa parte desta rede social é composta por organizações criadas nos anos 60 ou depois do 25 de abril de 1974”.
O Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira aproveitou, ainda, o momento para felicitar a Fundação e expressar “a certeza de que continuaremos juntos a construir este futuro que é de todos e que estamos ao serviço do que é mais importante: as pessoas”.
A primeira parte do Encontro foi iniciada pelo Painel “Economia Social e Solidária”, com moderação do jornalista Luís Ferreira Lopes e os oradores Tiago Abalroado, Presidente do Conselho de Administração da Fundação UNITATE, e Carlos Azevedo, Strategic Advisor - IES - Social Business School, cujo arranque foi marcado pelas memórias, ligadas à CEBI, que Luís Ferreira Lopes guarda da sua juventude.
Tiago Abalroado trouxe à reflexão o tema “Inovação, Tecnologia e Diversidade - implicações no desenvolvimento das Organizações Sociais”, onde começou por mencionar que “a CEBI é uma instituição de referência neste concelho e neste país”, num setor Social que se “reinventa todos os dias”.
No entanto, o Presidente do Conselho de Administração da Fundação UNITATE considera que “às nossas instituições, o que falta, neste momento, é capacidade organizativa. Temos um Estado que reconhece a estas Instituições uma função subsidiária, mas temos que ter a noção que [o Estado] não canalizará para o setor os fundos necessários. As instituições não conseguem fazer mais porque vivem asfixiadas diariamente em torno das suas questões internas”.
Como é que as instituições se podem reestruturar? Tiago Abalroado apontou a cooperação entre organizações sociais como a solução.
“Só conseguiremos sobreviver se nos afirmarmos como um setor forte, que diariamente revela a sua força pelo bem que faz aos outros, mas que este bem resulta de uma complementaridade entre as várias instituições (...) A partir do momento em que criamos desafogo, podemos usar este financiamento para criar oxigénio para as nossas organizações”, declarou.
"Se formos um setor verdadeiramente atrativo, ágil e que cumpre a sua Missão, conseguiremos ser um setor que vai todos os dias cumprir melhor a sua Missão, como faz a Fundação CEBI ao serviço do desenvolvimento humano"
Tiago Abalroado
Por outro lado, Carlos Azevedo, com o tema “Desenvolvimento e Inovação Social: abordagens para o crescimento sustentável no 3.º Setor” disse ter conhecimento da CEBI desde que se conhece “enquanto profissional neste setor”, recordando que quando começou “a trabalhar na União Distrital das IPSS do Porto, recebia uma revista mensal da CEBI. Essa revista ensinou-me muito do que sei e contribuiu para o profissional que sou hoje”.
Sobre o Setor Social, o especialista fez uma referência à obra “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus, datada de 1941.
"Quando olho para o setor social, lembro-me de Sísifo, que foi condenado a rolar uma grande pedra montanha acima por toda a eternidade. O que é que acontece? Sempre que a pedra está a atingir o topo, cai e ele tem de repetir o trabalho inglório todos os dias. Por muito que se faça, é um pouco isto que tenho visto na interação com as organizações sociais"
Carlos Azevedo
Durante a tarde, o Painel “Desenvolvimento Social e Sustentável” foi moderado pela jornalista Conceição Lino, que partilhou que enquanto “natural desta terra [de Alverca do Ribatejo], tenho assistido ao crescimento da Fundação CEBI e às suas ambições e concretizações”.
O painel foi iniciado com a participação de Patrícia Rocha, Diretora Executiva da Fundação Manuel Violante, que, através do tema “Governança colaborativa e Políticas Sociais: conciliação e responsabilidade nas organizações”, destacou que “quando falamos em desafios sociais, temos de ter em consideração que são cada vez mais complexos”.
"[Os desafios sociais] desenvolvem-se a uma velocidade cada vez maior e os desafios que tínhamos há uma década não são os que enfrentamos agora. Quando as políticas sociais são pensadas para resolver um problema social complexo, é importante que sejam pensadas de uma maneira e é aí que entra a governação colaborativa"
Patrícia Rocha
No painel da tarde, esteve também presente António Fonseca, docente na Universidade Católica, que levantou a questão de um “não problema, mas sim uma virtude”: o envelhecimento.
De acordo com o especialista, a sociedade cria imagens paternalistas em relação a uma pessoa em idade sénior, enquanto a vê como “um repositório do saber”. No entanto, ainda que, na investigação, se fale cada vez menos de “envelhecimento” e mais de “longevidade”, uma vez que o último termo aborda o que acontece às pessoas em toda a sua vida, António Fonseca referiu que ainda há uma tendência persistente na sociedade portuguesa: pensar que há uma idade para determinado tipo de função.
"Se olharmos para o nosso Parlamento, vimos que este não representa Portugal do ponto vista etário. Para o fazer, um quarto dos deputados tinha de ter mais de 75 anos. Neste momento, são nove [os deputados com mais de 75 anos]"
António Fonseca
Por fim, Paulo Pires do Vale, Comissário do Plano Nacional das Artes, fez uso da palavra e abordou o tema “Educação e Cultura”, trazendo consigo uma questão: “Como é que as instituições culturais e instituições educativas poderão ser o lugar da democracia cultural?”.
Aludindo à ideia de que é necessário reconhecer a Educação como “o acender de uma chama”, Paulo Pires do Vale explicou que “os jovens não são o futuro, são o presente” e que é urgente que o sistema educativo português não percecione os alunos como um copo que tem de ser cheio, mas que seja o acender de uma chama.
"Podemos dançar, podemos cantar, podemos fazê-lo sem outro propósito que não o puro prazer. Sophia de Mello Breyner disse que a cultura não serve para enfeitar a vida, mas para a transformar. Ou seja, tornando-a mais sustentável à procura de mais alegria (...) É isso que faz um grande filme, um grande livro... Dá a cada um possibilidades que no início não sabia que tinha e isso permitirá a cada um ser aquilo que é"
Paulo Pires do Vale
No painel de Encerramento, Pedro Krupenski, Assessor do Conselho de Administração da Fundação Oriente e Keynote Speaker do evento, começou por notar que a Fundação CEBI é "uma das mais eloquentes expressões da Economia Social", bem como por destacar a relevância de todos os debates da agenda de trabalhos, que, entre si, partilharam denominadores comuns, nomeadamente o de revisitar os sistemas de governação.
"É urgente repensar num modelo económico que seja centrado nas pessoas, que assente mais na partilha e na circularidade e na promoção do bem comum".
Pedro Krupenski
Pedro Krupenski terminou o uso da palavra com um alerta: uma vez que um dos propósitos do setor social é ter impacto, é, também, “importante pensar em alianças, fusões ou parcerias, não só intersetorial, como intrasetorial”.
Por sua vez, Vasco Luis de Mello, Membro do Conselho de Curadores da Fundação CEBI e Diretor Geral na José Mello, fechou as intervenções do dia referindo que “o Portugal de hoje não é o mesmo de quando nasceu a CEBI”, alertando para os baixos níveis de natalidade e para a falta de meios para responder às necessidades de apoio do número crescente de população idosa.
No entanto, e numa nota esperançosa para o futuro, esclarece que “falando da inovação e da economia social, penso que há duas tendências que podem contribuir para a procura de soluções”, apontando, como a primeira, a adoção de ferramentas digitais para uma melhor gestão dos profissionais e das instituições, que também contribuirá para o estímulo cognitivo e físico dos idosos e para o prolongamento da sua vida ativa.
Em segundo lugar, Vasco Luis de Mello mencionou a solidariedade social, em âmbito organizacional, bem como o propósito e os valores das empresas. De acordo com o Diretor Geral da José de Mello, este é um tema impulsionado pelas novas gerações e que fará com que as empresas tenham de provar o impacto positivo nas comunidades em que se inserem.
Vasco Luis de Mello terminou a sua intervenção, reforçando o “papel crucial do setor social, que tem estado na agenda da Fundação CEBI, uma instituição de referência nacional que procura novas soluções”.
A última palavra foi de Ana Maria Lima, Presidente do Conselho de Administração da CEBI, que aproveitou este Encontro, para homenagear os colaboradores que completarem duas décadas de trabalho ao serviço da Fundação, afirmando que os resultados alcançados ao longo dos 55 anos da CEBI devem-se, em certa parte, a todos os que, diariamente, “souberam prezar as pessoas que procuraram a CEBI para terem as respostas necessárias para o seu desenvolvimento”.
A Fundação CEBI deixa o seu agradecimento, mais uma vez, a todos os que, ao longo destas cinco décadas, caminharam ao nosso lado na construção de uma Sociedade mais solidária, inclusiva e promotora da mudança.